terça-feira, 20 de outubro de 2009

Barrichello

Este texto abaixo foi retirado do Blog do Flávio Gomes, que costuma criticar bastante o Rubinho. Eu achei este texto perfeito, sintetiza bem o que é A F-1 aqui no Brasil. Vale a leitura! Leiam e comentem.

19/10/2009 - 21:41

EM DEFESA DE BARRICHELLO

rbblog 

De todas as pessoas que encontrei hoje, ouvi: “Esse Rubinho é um cagado, mesmo”, “Puta azar deu o Rubinho”, “Esse Rubinho é muito ruim”, “O cara é muito azarado, tinha de furar um pneu?”, “Esse cara é muito ruim, não vai ser campeão nunca”, “Quando a gente mais espera dele, faz isso”.
E algumas variáveis sobre o mesmo tema.

Eu já tinha dessa impressão, mas depois deste fim de semana, tenho certeza. O problema de Barrichello não é ele, não são seus carros, não são seus companheiros de equipe. O problema de Barrichello é a TV Globo.

E por que a Globo, e não toda a mídia? Porque não se deve ter nenhuma ilusão. A imensa maioria das pessoas no Brasil só se informa sobre F-1 pela Globo. “Se informa” é um eufemismo, melhor corrigir. Digamos que a cultura de F-1 que a imensa maioria das pessoas tem no Brasil vem daquilo que a Globo diz.
E a Globo só diz besteira. A cultura de F-1 do brasileiro médio é zero, talhada pelas cascatas globais.

Barrichello não fez nada de errado ontem, não errou ao tentar a pole com o carro mais leve, não teve azar nenhum, não foi cagado. Mas a histeria global, martelada dia após dia — e quando a corrida é no Brasil, e ele está na pole, chega a ser quase uma lavagem cerebral, uma lobotomia —, faz com que o público aqui acredite que Rubinho do Brasil tem a obrigação de ganhar, e se não ganhar, das duas uma: ou sacanearam com ele, ou é um cagado que não tem mais jeito.

As pessoas veem uma corrida de F-1 aqui com zero de informação honesta. Ontem, depois de dez voltas já era possível afirmar que Rubens não venceria a prova. Simples: não abria de Webber e iria parar cinco voltas antes nos boxes. Cinco voltas, com um carro mais rápido e cada vez mais leve, seriam mais do que suficientes para Webber voltar à sua frente do pit stop. E Kubica, também. Ambos passaram.

Rubens apostou no clima instável de São Paulo, no que fez muito bem. Larga na pole, pula na frente, vai que chove no início, todos têm de parar, a vantagem do carro mais pesado é anulada. Ou, ainda: acontece alguma merda atrás dele, Webber se enrosca, Kubica bate, fica para trás, e a vantagem é igualmente anulada.

Mas há uma desonestidade editorial clara naquilo que a Globo faz, alimentando uma expectativa que não poderá ser cumprida. Porque corrida de carro é muito mais do que essa gritaria de “Vâmo, Rubinho!”, “Não erra agora, Rubinho!”, “Acelera, Rubinho!”. Corrida de carro tem lógica, é matemática, e quem mostra um evento desses a milhões de pessoas tem a obrigação de ser honesto.

Porque se não for, as pessoas não têm elementos para entender a derrota. E se amparam na explicação que está à mão: o cara é cagado, dá azar, não vai ganhar nunca. Ou, ainda: furaram o pneu dele de propósito.

E, aí, vai-se criando a fama, dia após dia, de perdedor, azarado, cagado. Uma farsa, uma mentira. A TV mente o tempo todo. Foi assim nos anos pós-Senna, em que Barrichello, de Jordan ou Stewart, não tinha a menor chance de ganhar uma corrida, embora a TV dissesse o contrário. Porque corria contra Williams, Ferrari, McLaren, Benetton. Depois, na Ferrari, a venda de ilusões baratas era igualmente cruel, porque contra um piloto como Schumacher, Barrichello jamais seria campeão. Não seria porque Schumacher era muito melhor. Se eu for companheiro de Barrichello numa corrida de qualquer coisa, não terei chance alguma de andar na frente dele. Deem um kart para ele e outro para mim, e ele vai chegar na frente todas as vezes. Entreguem um Lada igualzinho ao meu, e não vou ser mais rápido que ele nunca, em nenhuma volta.

Mas a Globo vende a esperança, porque acha que as pessoas só vão se interessar por seu evento se houver a chance de um brasileiro vencer, mesmo se for uma mentira deslavada, como na maioria das vezes. É um engodo, e uma sacanagem com o piloto. A expectativa que se cria por seus resultados é criada na TV. OK, muitas vezes Rubens embarcou na onda, mas é o menor dos culpados.

Se a TV não se dedicasse tanto a iludir seus telespectadores tratados como otários, Barrichello não seria zoado como é há anos, pela Globo inclusive. Poderia conduzir sua carreira com mais tranquilidade e serenidade. Ele não tem a obrigação de vencer por ninguém, pelo povo, pelo país. Tem obrigação de trabalhar direito para quem lhe paga, e por ele mesmo.

Um dia depois de uma corrida normal, na qual fez o que podia fazer dentro dos limites de seu carro e de seu talento, o coitado tem de aguentar um tijolo a mais nessa construção de uma imagem que não corresponde à realidade. Barrichello pode não ser o melhor piloto do mundo, está longe disso, mas é um dos bons dos últimos anos, como outros tantos. Nem muito mais, nem muito menos. Não estaria há tanto tempo correndo se não tivesse qualidades.

Quando parar, muito provavelmente sem ter sido campeão, terá para sempre colado na testa o rótulo de cagado, azarado, lento, o que for. Pode agradecer à TV por isso. Foi ela que, nesses anos todos, disse ao Brasil que Rubens era algo que nunca foi. Talvez ele nunca entenda isso, até porque adora ser bajulado pela Globo, com seu pseudo-jornalismo esportivo meloso, ufanista e cascateiro. Mas é assim.

6 comentários:

Nelson Kotowski disse...

Para vocês que entendem, ouvi dizer que ele sairá da Brawn? Pediu para sair ou saíram com ele?

VH disse...

Acho que sim... e se ele sair, é pq saíram com ele.
A Mercedes, parceira da Brawn, quer botar um alemão na equipe, no caso, o Rosberg. Como o Butão é campeão mundial e mais novo, sobra pro Barrichello.. que deve ir pra Williams!

Tayná disse...

Tadinho do Rubinho!!! fiquei super chateada... :(

Blog do Túlio disse...

Aí, realmente a mídia é cruel, mas na minha opinião o Rubinho é um bom piloto, mas não tão bom assim para ser campeão. A verdade é que se o Vileneuve e o Hill foram campeões, qualquer um pode ser. O Rubinho teve carros bons nas mãos, mas infelizmente a oportunidades não foram aproveitadas por diversos fatores, segundo piloto na Ferrari, quebras e falhas na Brawn. A verdade é que ele pode se aposentar com o estigma, o que é crueldade, pois o Hamilton fez coisas mais humilhantes que ele ao amarelar com um bom carro em 2007 e quase perder um título ganho no ano passado, em ambos os casos faltou ao inglês ser arrojado, como se pede aos pilotos de F1, mas ano passado ele aproveitou a falha de outro carro. Mas é isso aí, pelo menos a F1 tem esse ingrediente de emoção e falhas.
Outra obs, se vc acredita no comentário do Flávio Gomes, não deve aceitar qq estigma a respeito do Fogão!
Abs

Thiago disse...

Acho que o estigma 'Rubinho pé-de-chinelo' nunca vai sair graças ao Casseta e Planeta. Outros tantos, como Luciano Burti e Roberto Pupo Moreno, tiveram carreira ainda mais apagada na F1 e saíram sem serem crucificados.
A carreira de Barrichello 'nasceu' após a morte de Senna como a esperança de surgir o novo ídolo nacional. E pra grande maioria das pessoas que só assiste corrida de F1 'de vez em quando', piloto só é bom quando vence, quando é campeão. Portanto, mesmo pilotando numa época favorável, quando tinha um ótimo carro e bastante bagagem, Rubens teve como companheiro de equipe um futuro heptacampeão. Seria o mesmo que um 'zé-das-couves' qualquer no futebol fazer mais de mil gols, mas ainda assim menos que o Pelé. Quem é lembrado é o vencedor.
Portanto mesmo que tenha sido malogrado com os revezes de 2009, Barrichello fez um ótimo ano. e Button, mesmo tendo caído de rendimento, teve a façanha de vencer várias corridas seguidas num começo de temporada em que nenhum piloto se acertava. Também mereceu o título. E que após o fim da atual temporada que venha a F1 2010!!! Quem sabe o 'azarado' não dá uma 'sorte danada' e melhora sua performance mais ainda???

Alan disse...

Caraca, o Tulio misturou Rubinho com Botafogo... rsrsrsrsrsrs

Ele sai da Brawn pq não quiseram mais ele. Só q não se sabe até q ponto isso será ruim. Ano q vem os carros mudam muito, equipes grandes já abandonaram os projetos ruins de 2009 e trabalham no de 2010. Enquanto a Brawn gastou todas as fichas nesse campeonato q tava disputando. E mesmo assim chegou ao fim tomando tempo da Red Bull e da McLaren. Além do mais, eles tiveram a vantagem de em 2009 inventarem esse difusor duplo q a FIA acabou liberando e valeu muito no início da temporada. Eu não apostaria num carro top da Brawn em 2010, dois raios não costumam cair no mesmo lugar assim... A Williams não deve ser um carro top, mas a Brawn tbm não deve ser lá essas coisas. O mais seguro pro Rubinho era se aposentar agora, estaria no auge. Mas ele prefere correr mais, bom pra ele. Mas pode ser q mais um ano, carro ruim, vai andar na rabeira, será esquecido de novo e terá uma aposentadoria forçada e melancólica. Só o tempo dirá! Quem sabe a Williams não surge aí com um carro bom!